junho 25, 2022

Bolsonaro esteve com ministro da Justiça, responsável pela PF, no dia em que Ribeiro diz ter falado com presidente

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No dia em que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro disse à sua filha que o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou a ele que tinha um “pressentimento” de que ele poderia ser alvo da Polícia Federal, Bolsonaro estava junto do ministro da Justiça e Segurança Pública, o delegado Anderson Torres, em viagem aos Estados Unidos.

A PF é subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, chefiado atualmente por Anderson Torres. A conversa de Ribeiro com sua filha foi um dos motivos que levou o Ministério Público Federal a argumentar que teria havido uma tentativa de interferência do presidente Jair Bolsonaro no caso.

A conversa de Ribeiro com sua filha aconteceu no dia 9 de junho, conforme as investigações. Bolsonaro, Torres e o restante da comitiva presidencial foram aos Estados Unidos na noite do dia 8 de junho. Durante o dia 9, cumpriram compromissos em Los Angeles na Cúpula das Américas.

No diálogo com sua filha, Ribeiro disse que havia conversado com Bolsonaro naquele dia. “Hoje o presidente me ligou. Ele tá com pressentimento novamente de que eles podem querer atingi-lo através de mim”, afirmou o ex-ministro, de acordo com as apurações policiais.

A CNN apurou que a PF enviou o pedido de prisão e busca e apreensão contra Milton Ribeiro e outros alvos entre o dia 6 e 8 de junho –portanto, antes da ligação feita por Ribeiro à sua filha.

Após o pedido feito pela PF à Justiça, o Ministério Público Federal se manifestou contra a prisão. O documento do MPF é datado do dia 14 de junho.

O presidente também se encontrou com Pedro Cesar Sousa, subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria Geral da Presidência, na Base Aérea de Brasília, horas antes de embarcar em viagem para os Estados Unidos, no dia 8 de junho. O encontro aconteceu às vésperas da suposta ligação de Bolsonaro para o ex-ministro da educação, Milton Ribeiro, na qual o presidente o teria alertado sobre a operação da Polícia Federal que resultou na prisão do ex-ministro.

A decisão do juiz foi assinada no dia 20 de junho. Ribeiro e os demais investigados foram alvo da operação da Polícia Federal na última quarta-feira (22). O ex-ministro foi solto após decisão do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).

Procurado para saber se houve interferência na PF ou se alertou o ministro sobre eventual mandado de busca e apreensão, o Planalto não se manifestou. Nesta sexta-feira (24), o advogado Frederick Wassef, que defende a família do presidente, disse que Bolsonaro “não tem nenhum contato e nunca mais falou com o ex-ministro [Milton Ribeiro]”.

“O presidente Bolsonaro não tem nenhum contato com o ex-ministro da educação, portanto, se for verdade, se apurarem que o que ele está falando realmente ele disse, porque eu não sei, eu não tenho acesso”, disse.

O defensor ainda negou qualquer interferência do presidente na PF. “Eu quero deixar claro o seguinte, o presidente Bolsonaro não interferiu, não age, nada tem que ver e está absolutamente distante do ex-ministro e de todos os demais investigados”, afirmou.

Wassef ainda disse que “se o ex-ministro usou o nome do presidente Bolsonaro, usou sem o seu conhecimento, sem sua autorização, ele que responda. Compete ao ex-ministro se explicar sobre o que ele fala”.
A cronologia do caso

6 a 8 de junho: Polícia Federal formula à Justiça o pedido de prisão e busca e apreensão contra o Milton Ribeiro e outros acusados

8 a 12 de junho: Bolsonaro e comitiva presidencial (inclusive o ministro da Justiça, Anderson Torres) participam de viagem aos EUA, onde participaram da Cúpula das Américas. Eles saem do Brasil no dia 8 às 22h30 e voltam no dia 12 à 0h10

9 de junho: ligação do Milton Ribeiro à filha quando ele diz que “hoje” conversou com o presidente Bolsonaro e foi avisado sobre o “pressentimento” a respeito de uma busca e apreensão

14 de junho: MPF se manifesta sendo contra a prisão e a favor de outras medidas

20 de junho: decisão do juiz pela prisão e busca e apreensão

22 de junho: Ex-ministro Milton Ribeiro, os pastores Gilmar e Arilton e outras duas pessoas são presas pela PF